No vasto panorama da história missionária batista no Brasil, alguns nomes brilham com uma luz particular, marcando gerações e lançando as bases para movimentos duradouros. Um desses nomes é William Alvin Hatton, o missionário cuja vida e dedicação foram fundamentais para a implantação e desenvolvimento dos Embaixadores do Rei (ER) em terras brasileiras. Sua jornada, marcada pela timidez na infância e uma profunda fidelidade ao chamado divino, oferece inspiração e lições valiosas até hoje.
Mas como um jovem tímido se tornou um embaixador tão influente? A história de Alvin Hatton é um testemunho da providência e do poder de Deus em usar aqueles que se dispõem a ser fiéis.
Uma Infância Marcada e um Chamado Precoce
Nascido em 14 de fevereiro de 1921, em Abilene, Texas, Alvin Hatton teve uma infância que o moldou profundamente. Seus pais, John Moses e Sarah Jane Hatton, mudaram-se para Abilene em busca de um clima mais seco para a asma do pai e de melhores escolas para os filhos, fugindo de um ambiente de violência e imoralidade em Orange.
Aos sete anos, Alvin viveu uma experiência que o marcou para sempre: a morte trágica de sua irmãzinha, Janell, após uma operação de amígdalas. A dor da perda e as palavras de sua tia Mary – “Não chora, Alvin, pois JANELL está com Jesus. Ela está segura.” – o levaram a uma profunda reflexão sobre a morte e a salvação. Foi então que, movido pelo medo de seu próprio destino como pecador, Alvin conversou com seus pais e aceitou a Cristo como seu Salvador, encontrando a paz que “só o crente em Cristo goza”.
Os Embaixadores do Rei e a Influência de Mentores
Aos dez anos, Alvin entrou para a Embaixada “William Buck Bagby” na University Baptist Church. Apesar de se considerar o menino mais tímido do Texas, ele foi nomeado Embaixador-Chefe. A figura que o inspirou e o ajudou a crescer social e espiritualmente foi a Sra. R. M. White, sua “Conselheira Extraordinária”. Ela irradiava entusiasmo pelos ER e sabia como transmiti-lo aos meninos, despertando neles a vontade de trabalhar e dar o máximo como Embaixadores de Cristo.
Outra grande influência foi o Sr. John J. Toombs, um “conquistador de almas” que se tornou seu mentor no “Serviço Real”. Alvin teve o privilégio de acompanhá-lo centenas de vezes em trabalhos de visitação, cultos em cadeias e favelas. Foi com o Sr. Toombs que Alvin aprendeu a importância de levar a mensagem de Jesus, que para o Sr. Toombs, era o único sermão necessário.
O Chamado para ser Pastor e Missionário: Uma Luta de Fé
Desde cedo, Alvin sentiu o desejo de ser missionário, mas a ideia de ser pastor o incomodava, acreditando que o mundo já estava “super lotado de pastores batistas”. Contudo, durante seu primeiro ano na Hardin-Simmons University, o chamado para ser pastor se tornou mais intenso. Uma semana decisiva em 1939, por volta de seu 18º aniversário, selou seu destino. Um presente surpresa – uma Bíblia dos Embaixadores do Rei – e um sermão sobre “A Chamada de Isaías” pelo Pr. Charles A. Powell, no qual cada palavra parecia ser dirigida a ele, dissiparam suas desculpas e resistências. [22-23] Alvin finalmente se rendeu, respondendo: “Senhor, eis-me aqui, envia-me a mim”.
Anos mais tarde, em 1942, ele seria ordenado pastor. O desejo de ser missionário para o Brasil, no entanto, persistia. Encontros com missionários brasileiros e até uma participação em uma peça teatral chamada “Brazilian Gold” em português, alimentaram essa paixão.
Fidelidade Acima do Sucesso: A Escolha de um Destino
A convicção mais profunda que guiou Alvin Hatton foi expressa em uma frase que ressoa ao longo de sua biografia: “Deus não me chamou para ser um sucesso, mas para ser fiel à tarefa que Ele me deu.”
Este princípio foi crucial em 1950, quando Alvin enfrentou uma decisão significativa. Ele recebeu dois convites: um para trabalhar no Mato Grosso, que parecia uma vida missionária “mais simples e mais interessante”, e outro para ser o diretor do novo Departamento de Embaixadores do Rei no Brasil, um convite oficial da Junta de Escolas Dominicais e Mocidade (JUERP).
Apesar de preferir uma vida longe da agitação de uma cidade grande como o Rio de Janeiro, Alvin e sua esposa Katie oraram intensamente. A conclusão foi clara: Deus os estava chamando para o trabalho com os Embaixadores do Rei. Eles entenderam que, se Deus os chamasse, Ele estaria com eles, guiando e abençoando, independentemente dos obstáculos. A tarefa não era resolver todos os problemas da denominação, mas sim ser fiel à sua própria parte do plano divino. Esta entrega à fidelidade, em vez de buscar o caminho “mais fácil” ou o “sucesso aparente”, foi a pedra angular de sua vocação.
O Legado de um Embaixador Fiel
A partir de março de 1948, Alvin Hatton e sua esposa Katie embarcaram para o Brasil, dando início ao trabalho dos Embaixadores do Rei que conhecemos hoje. Sua fidelidade, humildade e paixão por Deus e pelos meninos resultaram na fundação da primeira Embaixada, na criação e desenvolvimento do Sítio do Sossego – um espaço vital para acampamentos e formação de líderes – e na organização de inúmeros programas, viagens missionárias e congressos que impactaram milhares de vidas em todo o país. [41, 48, 62, 87-89]
As sementes de fé plantadas por Alvin Hatton, com sua dedicação incansável e a crença de que a equipe e a fidelidade ao chamado eram mais importantes do que a busca individual por “sucesso”, floresceram em uma organização que continua a moldar o caráter de jovens batistas brasileiros. Sua história nos lembra que, muitas vezes, a verdadeira grandeza não reside na busca por reconhecimento, mas na perseverança e dedicação àquilo que somos chamados a fazer, por mais tímidos ou pequenos que nos sintamos, confiando sempre na orientação divina.
O que você achou da jornada de Alvin Hatton? Qual aspecto da história dele mais te inspirou? Deixe seu comentário!
